segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

PAI! O QUE É SER PAI?


Podemos começar esta reflexão considerando a nova posição da mulher na sociedade. Hoje ela deixou de ser a “rainha do lar” para assumir a função de provedora, muitas vezes apenas ela assume este papel. Neste contexto o papel do homem também foi, e ainda está mudando. Abre-se a possibilidade para que os pais ocupem um novo espaço. Surge o pai presente, afetuoso, amigo, companheiro, que chora, se emociona e até desmaia diante do nascimento do filho. O pai que banha, dá a mamadeira, troca fraldas, levanta de madrugada, vai ao pediatra, leva à escola, acaricia e abraça. O antigo pai autoritário e distante afetivamente, dá lugar a um pai presente e afetivo. Mas o pai é responsável por colocar limites e também impulsionar os filhos a enfrentarem os desafios da vida, ele é fundamental no desenvolvimento da autonomia da criança.
Esta conquista é da família, todos se beneficiam com estas mudanças: as mães não estão mais solitárias na tarefa de criação dos filhos; para os filhos que crescem num ambiente onde as diferenças se somam; e para os homens que agora estão mais próximos de seus filhos partilhando na criação de seus filhos de forma mais afetiva.
Mas, esta mudança de papéis na família ainda gera inseguranças, incertezas, conflitos, em muitas situações nenhum dos dois consegue dar os limites essenciais na educação dos filhos. 
Esta confusão de papéis e a ideologia de que precisamos ser “felizes” aqui e agora tem produzido uma geração de filhos despreparados para enfrentar a vida de adulto.
Parece ser papel dos pais garantirem aos filhos que, para serem considerados bem sucedidos, realizados e felizes não vamos falar de dor, de medo e da sensação de sentir-se desencaixado. Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude. Neste mundo não há espaço para o sagrado, o divino, tudo é efêmero.
O exercício desta autoridade passa pelo ensinar os limites da vida, as regras sociais, mostrar o mundo como ele é, ensinar à criança que o mundo da fantasia, onde todos os seus desejos são possíveis, ficaram na infância. É função do pai preparar os filhos para enfrentarem a realidade que o mundo lhes apresenta onde temos direitos e deveres, explicando-lhes o que são estes limites e como estabelecê-los. É importante o intercâmbio entre pai e mãe, mas o que se observa nos dias atuais é a confusão de papéis que tem deixados as crianças confusas, perdidas entre o real e a fantasia. 
Os filhos, sem métodos nem regras a seguir, regidos pelo saciar dos seus desejos, tornam-se tão indisciplinados quantas forem as suas vontades. O que os filhos estão fazendo em casa, não poderão fazer na sociedade. Portanto, eles não estão sendo educados para serem cidadãos.
O que temos testemunhado no perfil das novas gerações é o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido, ou simplesmente lhes omitiram, não lhes foi dito que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
Muitas vezes os jovens são tratados como pequenos “reis” centrados no seu próprio universo pessoal e se descobrem num vazio existencial para o qual não estão preparados para lidar. Na recente Jornada Mundial da Juventude foi clara a demonstração de que os nossos jovens buscam a Deus e tem no Papa uma referência de paternidade, de limite amoroso. 
O Papa Francisco, no Angelus do domingo posterior a sua vinda o Brasil, nos pediu orações pelos jovens: “os jovens são particularmente sensíveis ao vazio de sentido e de valores que muitas vezes os rodeiam. E, infelizmente, pagam as consequências. Em vez disso, o encontro com Jesus vivo, em sua grande família que é a Igreja, enche o coração de alegria, porque o preenche com a vida verdadeira, de um bem profundo, que não passa e não apodrece: o vimos nos rostos dos jovens no Rio.” 
Este vazio do qual o Papa fala passa pela perda de limites entre o real e o imaginário que não foi vivenciado por estes jovens em sua família, pela falta de dialogo entre pais e filhos, pela falta de maturidade dos pais. Que muitas vezes não entendem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando a seus filhos o quanto a vida esta difícil, o quanto este pai tem medos e que ele não sabe tudo, mas juntos podem descobrir. 
O ser humano é o único que pode mudar sua história, pois tem inteligência e criatividade. Basta acrescentar a motivação. Então PAI nem tudo esta perdido só depende de NÓS.
* Texto de minha autoria publicado originalmente na edição de Agosto/2013 do "Jornal Comunidade" - da Paróquia Nossa Senhora da Luz - Salvador - Bahia - Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário