MÃE
Cores, fantasias douradas
Embrulhadas em papel presente
Expressam a grande mentira
Hoje eu não quero
Te dar presentes
Dos Shoppings
Hoje eu não quero
Me dar a você em pacote
Pronto – acabado
Esculpido pelo medo, pela TV, pelas escolas
Pelas igrejas, por você
Não te dou pacotes
Nem me deixo pacote
Te ofereço
O braço erguido
Em punho cerrado
- o meu e dos meus companheiros –
Te ofereço o peito alegre
Confiante no mundo melhor
Para em breve
- a qualquer domingo de sol –
Não quero teu choro
Te ofereço uma estrada
E um braço firme
Prá gente se abraçar e caminhar
Hoje eu te ofereço
Meu punho, meu peito, meu braço
Na estrada
Hoje eu não falo por mim
Grito por milhões que
Vão juntos nessa estrada
E pelos que tombaram
Adubando a terra
Hoje eu te ofereço nada!
Taí a estrada...
Wilson Lopes Brasileiro (07/05/1980)
Esta poesia escrita em 1980 pelo meu irmão para a nossa mãe, continua atual.
Talvez mais atual ainda. Vivemos numa sociedade de consumo, os apelos consumistas são tentadores, como não ceder a eles? Na sociedade pós-moderna, homenagem que se preze exige a compra de um belo presente. Bolso vazio não é problema. Descontos á vista, cartões de crédito, primeiro pagamento para daqui a cem dias, etc. Como diz a propaganda: elas merecem.
Ao assumir uma atitude contrária ao mercado corremos o risco de sermos rotulados de chatos, alienados, desnaturados ou mesmo pão-duro.
Mas como aproveitar a data sem se esquecer de seu significado mais importante: a homenagem às mães? Como não cair na tentação do consumismo desenfreado? Estudiosos do consumismo dizem que o consumo está profundamente associado às carências e frustrações da vida contemporânea. “Muitas vezes ele supre uma fantasia: ‘Se eu comprar tal roupa, serei mais bonita, poderosa, feliz.’”
O mal do consumo não esta no consumismo, mas no vazio que ele procura preencher. Um vazio de humanidade, de Deus, de afetos, de boa cultura e de melhores referências.
Muitas mães desejam presentes e outras até necessitam deles, mas muitas desejam algo mais simples como partilhar dos sonhos dos filhos, ser mais presente em suas vidas, conhecer os seus projetos, partilhar mais da sua companhia, ter o direito de simplesmente estar com eles.
Se você não ganhar um presente de seu filho neste dia, talvez ele esteja te dizendo algo maior que não se diz com presentes materiais. E se você é filho, pense bem no presente que deseja dar a sua mãe.
Como na poesia: Te ofereço uma estrada
E um braço firme
Prá gente se abraçar e caminhar
* Texto de minha autoria publicado originalmente na edição de Maio/2013 do "Jornal Comunidade" - da Paróquia Nossa Senhora da Luz - Salvador - Bahia - Brasil.
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